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A mostrar mensagens de fevereiro, 2014

A desolação de Shira

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Dia 2. Segunda, 10 Fev 2014 O sono foi profundo e retemperador, apesar das pesadas chuvas da madrugada. Despertar às 7, pequeno-almoço na tenda de refeições, abundante: papas de aveia, tostas, omeletes, bananas (Ndizi), chá ou leite em pó. São 8h40 quando finalmente iniciamos a marcha, com o acampamento quase todo levantado. O ar exala humidade, pinga ainda e patinamos um pouco no trilho de lama já pisada pelos mais madrugadores. Embrenhamo-nos na floresta. E que floresta! É um mergulho no Jurássico, gigantescas árvores surgem como pináculos, ou então de troncos retorcidos, torturadas, e longos líquenes pendendo dos seus ramos como barbas de druida. O caminho sobe e desce, tortuoso, cruzando pequenos riachos, um assombro de vegetação e de flores, como a Protea kilimanjarica , de grossas cascas de aspecto pré-histórico mas abrindo-se em delicadas corolas amarelo-claro. Freddie vai explicando, aqui o Yellow Wood , ali a Christmas Tree , coberta de líquenes, flores exóticas com nome...

Lemosho Route

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Dia 1. Domingo, 9 Fev 2014 A manhã no Springlands Hotel fervilha de actividade. No grande telheiro que serve de sala de refeições o pequeno-almoço vai adiantado, turistas ocidentais discutem animadamente planos de viagem enquanto engolem omeletes e os cozinheiros vigiam, solenes, o buffet onde há tostas, salsichas, tomate assado, frutas, batatas, estranhos molhos, pouridge, café, chá. A manhã é mais leve, ainda húmida das chuvadas da noite. O meu cérebro está anestesiado do cansaço e do sono curto, a noite em claro a ouvir a trovoada, parece-me tudo uma imensa maçada, vir de tão longe para comer tostas com doce, em África...  O verdadeiro caos, no entanto, só o vemos depois, já de malas prontas, dirigindo-nos para o jardim onde uma multidão de guias, carregadores, funcionários, ajudantes, se movem como abelhas de uma colmeia, entre montes de bagagem que vão sendo embrulhados em sacos de lona e atirados para o tejadilho de camionetas já um pouco decrépitas e sujas de lama. Ne...

As neves do Kilimanjaro

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Dia 0. Sábado, 8 Fev 2014 África. O próprio nome soa a algo imenso, impenetrável, quente, estranho. De África só vira os souks de Marraquexe e os picos do Atlas, sobre o Sahara, mas aí não ecoam os sons ancestrais, os estranhos cantos de animais e odores da noite tropical, os imensos espaços abertos. Desta vez demandamos um lugar lendário que desafiou os geógrafos durante séculos - a existência de picos nevados na África equatorial, as míticas montanhas da Lua onde Heródoto colocou as nascentes do Nilo, uma estranha montanha a que também chamaram o Olimpo Etíope. A reputada British Geographical Society passou todo o século XIX a repetir que não era possível encontrar neves no Equador... E no entanto, o Kilimanjaro está lá à nossa espera, um dos maiores vulcões do mundo, um colosso que se ergue  da savana da Tanzânia até aos 5895 metros, de gigantesca cabeça aplanada e coberta de glaciares. Voamos de Lisboa, via Dubai e Nairobi. No último voo, pedimos lugares do lado esquerdo...