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A mostrar mensagens de agosto, 2016

A miragem socialista

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Chove como se não fosse parar nunca mais, aquela chuvinha parda e triste, sem fazer calor nem frio. Vamos espreitar Nowa Huta, o sonho socialista operário de Cracóvia, uma nova cidade construída a alguns quilómetros do centro apara servir uma mega-siderurgia. Esperava um desfilar de blocos cinzentos e depressivos, mas as avenidas largas sucedem-se surpreendentemente verdes e cuidadas, com grandes quarteirões residenciais que afinal têm alguma variedade e humanidade. De estômago vazio, procuramos em vão um local para tomar o pequeno-almoço à volta da grande praça de ar estalinista, solene. Resta-nos uma loja colorida de cafés e bolos, onde as duas moças de unhas de gel tentam entender-nos no seu inglês quase inexistente, enquanto se agarram ao whatsapp dos seus smartphones. Em Nowa Huta vale a pena espreitar a igreja de Arka Pana, ou a Arca de Deus. Na neblina húmida do dia parece um cogumelo cinzento vista de fora, tranquila e silenciosa. Dentro, surpreendem-me dois gritos...

Krakow

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9 de Agosto Se estivermos no meio da praça em Rynek Glówny, na cidade velha de Cracóvia, à hora certa, depois do soar dos sinos da Basílica de Santa Maria ouviremos uma peculiar melodia de clarim, como um toque militar. Seguiremos os olhares de muitas cabeças levantadas até encontrar o trombeteiro bem no alto da torre da Basílica. A melodia interrompe-se subitamente a meio do compasso, e o trombeteiro acena à multidão. Aparentemente, o “Hejnal” é tocado assim desde a Idade Média; durante as invasões tártaras, o vigia soou o alarme mas foi trespassado por uma flecha inimiga antes de terminar a frase. A praça é vasta, como um quadrado romano de 200 metros de lado, com o seu mercado gótico ao centro e os prédios de fachadas neoclássicas. Será hoje difícil imaginar que o Reich quis fazê-la símbolo das “antigas cidades alemãs” e mudou-lhe o nome para Adolf Hitler-Platz. Em Wawel, a colina real, repousa a velha essência do Estado Polaco, sobrevivendo às invasões e martírio...

Varsóvia: o renascer da Fénix.

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7 de Agosto de 2016 Do alto da sua coluna, Segismundo III Vasa observa, impávido, as animadas colunas de turistas, os músicos na praça, os cafés e esplanadas repletos. Há 350 anos que trouxe para aqui a sua capital, presidindo então a um vasto país que se estendia até aos confins da Lituânia e ao sul da Ucrânia. Nada hoje faz supor ao viajante desprevenido que, nos séculos que se seguiram, esta grande potência da Europa se transformou num campo de divisão, de batalha e de tragédia, sucessivamente espartilhada, disputada, partida pelos seus terríveis vizinhos, eclipsada dos mapas durante 123 anos. E depois, na escuridão do século XX, tornando-se a própria imagem da dor e da morte. Em 1945, ao terminar a guerra, Segismundo jazia partido no chão da praça, centro de uma cidade totalmente aniquilada, calcinada, vazia. De Varsóvia restaram apenas 15% dos seus edifícios e um enorme silêncio. O bairro de Saska Kepa foi um dos poucos que sobreviveu à devastação levada a cabo pe...