Varsóvia: o renascer da Fénix.
7 de Agosto de 2016
Do alto da sua coluna, Segismundo
III Vasa observa, impávido, as animadas colunas de turistas, os músicos na
praça, os cafés e esplanadas repletos. Há 350 anos que trouxe para aqui a sua
capital, presidindo então a um vasto país que se estendia até aos confins da
Lituânia e ao sul da Ucrânia. Nada hoje faz supor ao viajante desprevenido que,
nos séculos que se seguiram, esta grande potência da Europa se transformou num
campo de divisão, de batalha e de tragédia, sucessivamente espartilhada,
disputada, partida pelos seus terríveis vizinhos, eclipsada dos mapas durante
123 anos. E depois, na escuridão do século XX, tornando-se a própria imagem da
dor e da morte.
Em 1945, ao terminar a guerra,
Segismundo jazia partido no chão da praça, centro de uma cidade totalmente
aniquilada, calcinada, vazia. De Varsóvia restaram apenas 15% dos seus
edifícios e um enorme silêncio.
O bairro de Saska Kepa foi um dos
poucos que sobreviveu à devastação levada a cabo pelos Nazis. Construído no
período entre guerras, era um bairro residencial de embaixadas, de pequenas
ruas tranquilas cheias de arvoredo e prédios baixos e despretensiosos. Durante
o período comunista, muitas das casas foram realocadas e subdivididas para
alojar várias famílias. E é aqui que ficamos, num prédio que hoje aloja
empresas e onde Konstance, a filha de Janina, vive e estuda. Janina é
professora universitária em Siedlce, uma cidade a uma hora de Varsóvia. O seu
marido, Konrad, cresceu em Varsóvia e esta casa era propriedade dos seus avós,
mas só há alguns anos o recuperaram completamente, saídos os últimos ocupantes
da era soviética.
Janina e a filha são as nossas
anfitriãs uma tarde em Varsóvia. Subimos tranquilamente a Nowy Swati em
direcção à cidade velha, com os seus elegantes prédios enfeitados com floreiras
e a conversa flui entre a Polónia de hoje e de ontem, de um país emergido do
Comunismo à sombra de Karol Wojtyla, profundamente transformado em poucos anos.
Há aqui uma aura dos grandes polacos – Chopin, que viveu num dos edifícios da
Universidade aqui ao lado, ou Copérnico, presidindo em bronze a um planetário
desenhado na calçada. Janina é cientista e queixa-se do atraso da Polónia, parada e isolada durante 50 anos - agora a recuperar o tempo perdido.
E depois, a cidade velha, meticulosamente reconstruída como um todo depois da guerra. Na Praça da cidade velha, tudo parece estar como há séculos – e, no entanto, apenas dois prédios resistiram à destruição. Como a cidade, a nova Polónia parece ter curado as suas cicatrizes e surgir moderna e renascida.
Comentários
Enviar um comentário