Meet the Danes
They decided to go out
at dawn to catch a Dane. “It’s best to catch them early, while they are still
fresh”, said Donut. (...) “Everyone talks about them: the Danes, the Danes...
but no one’s seen an actual Dane.”
No entanto, li que os
dinamarqueses são um povo geneticamente monótono, pouco dado às vagas
migratórias. Ao longo dos seus mil anos, os ímpetos conquistadores
estenderam-se sempre aos seus vizinhos nórdicos e sub-árticos; a última guerra que fizeram,
no fim do século XIX, foi por uns pedaços de terreno na fronteira com a
Alemanha. Aí estão eles, altos, louros, atléticos, pedalando por Hellerup ou
Østerbro, no mercado de Israelsplads ou nas esplanadas do porto, sóbrios mas trendy, na sua língua de muitas vogais e
sons glóticos, mas bem mais suave que a dos seus vizinhos holandeses ou
alemães. Paul, no hospital, tem toda a pinta nórdica: parece gélido no primeiro
contacto, olhar claro penetrante, mas cheio de um humor fino e ácido. Responde
geralmente às questões com um “o que é que pensas?” ou “há estudos randomizados
sobre isso?” e nem sempre está a falar a sério. Afinal, também há
multiculturalidade nos seus colaboradores: Valentina é uma dedicada lituana, Matti um afegão caloroso.
Perfeitos dinamarqueses.
Não foi fácil conhecer dinamarqueses. Uma noite, ao jantar em casa de Adriana, só Lars era
dinamarquês, mas namora com Simone, brasileira de Recife, e fala italiano e
português; Eva, eslovaca de reservada beleza eslava, casada com um diplomata
sueco; os italianos expatriados, Francesco, que parece ter caído directamente de
Milão, e Pablo, o veneziano exuberante. O João e eu cozinhámos sopa de
grão e bacalhau, uma refeição sólida à portuguesa. Diz Pablo, animado com um
copo de Esporão reserva: “Neste país, se trabalhares a sério, tens sucesso”. Que o
diga a loja de design de interiores caríssima que tem no centro da cidade.
Alguns pontos parecem incontornáveis nos dinamarqueses. Apesar da sua divertida língua, o inglês é universalmente falado como se estivéssemos nas vizinhas ilhas britânicas. A rainha não se discute, e o discurso de Ano Novo, às 18h do dia 31 de Dezembro, faz parar o país. A religião é um assunto estritamente privado (e praticado por menos de 5% da população). A bicicleta é o meio de transporte natural, utilizada diariamente por mais de 50% dos habitantes, dos deputados às crianças. O sistema político é multipartidário, com uma esmagadora participação nas urnas e baixos níveis de corrupção. Em Christiansborg, a antiga sede da monarquia, coexistem no mesmo edifício os três ramos do poder: o Parlamento, o Governo e o Supremo Tribunal. E para muitos dinamarqueses, nada pode descrever melhor um sentimento de bem-estar do que Hygge, algo como "aconchego" ou "convívio", que se reflecte na maneira como vêm o conforto da casa, do café, do sala de trabalho.
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