15-17 Julho 2017
Mrs. Macquarie costumava sentar-se numa pequena saliência rochosa no extremo do jardim da casa do Governador, onde o marido mandara esculpir um assento na pedra. É um lugar privilegiado, à sombra das grandes figueiras de Moreton Bay, de raízes tentaculares, de onde se abrange uma boa parte do porto de Sydney, com a sua costa cheia de enseadas e a ilhota-prisão na distância. Hoje Vêem-se passar os ferries para Manly Beach, sulcando as águas tranquilas. À esquerda, numa língua artificial em frente ao pequeno promontório onde vivia o Governador, erguem-se as extraordinárias velas brancas da Ópera, como grandes conchas brilhantes, secções perfeitas de uma esfera reconstruída pela imaginação de Jorn Utzon, o mítico arquitecto dinamarquês. Por trás, a elegante Harbour Bridge a dominar todo o porto completa uma das vistas mais famosas do mundo.
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Botanical Gardens |
A minha corrida nesta manhã de Inverno austral cheio de luz não podia ter melhor cenário - de Potts Point pelas escadinhas até à Baía de Woolloomoolloo (mas haverá algum nome melhor que este?!) e depois pelo jardim botânico junto à água até à Ópera, com os arranha-céus do CBD a brilhar atrás das grandes árvores monumentais do Parque. Suspeito que se pode repetir o percurso milhares de vezes sem nos cansarmos das vistas.
Em Sydney há uma mescla excitante entre a geografia encantadora, com uma luminosidade a fazer lembrar as manhãs de Inverno em Lisboa, o passado aventureiro e duro, o exotismo dos mares do Sul e uma modernidade eclética, como se tudo fosse novo e possível e fácil. The Land of Plenty and Opportunity, mas sem o tio Sam e as suas asas de águia, uma versão mais relaxada da cultura dominante anglo-saxónica. Um Novo Mundo ainda novo.
Do Circular Quay, com as suas massas de turistas, subimos ao promontório rochoso a que chamam "The Rocks", verdadeiro início da cidade, hoje recuperado nas suas vielas e antigos armazéns industriais de 1900 transformados em hotéis de charme e cafés-boutique. Imagino o Capitão Arthur Phillip a cravar aqui a bandeira de Sua Majestade nos idos de 1788, neste fim de mundo a mil milhas de Londres. Um século depois, o lugar tresandava a crime e epidemias, a ponto de ter se ser arrasado para conter um surto de peste bubónica. Daqui chegamos facilmente à colina do Observatório, com grandes vistas sobre a ponte e a zona Oeste da cidade. Um casamento muçulmano tira fotografias de família no coreto e namorados sentam-se na sombra tranquila das figueiras gigantes.
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Observatory |
Aqui mesmo ao lado é a Ponte, um elegante arco metálico de 1932, onde estamos habituadoa a ver o primeiro fogo-de-artifício do ano. Trepar ao arco é uma actividade vertiginosa muito popular (e cara). De graça é caminhar pelos passeios pedonais até ao meio do canal e ver as conchas da Ópera, pequeninas, a brilhar ao sol.
Ao entardecer apanhamos o ferry para Manly Beach. É a maneira mais barata de fazer um cruzeiro no porto, saindo do Circular Quay e ver desfilar na água, flutuando, as velas da Ópera, os ilhéus, as enseadas, os bairros residenciais descendo até à água, as pequenas marinas e ancoradouros e a luz dourada do entardecer a descer suavemente. Do cais dos ferries atravessamos o pequeno istmo que separa o canal do Oceano Pacífico e estamos no areal de Manly Beach, uma das mais animadas praias de surf da cidade. É inverno e quase noite - fugimos das sombras nocturnas dos coqueiros e metemo-nos ao quente no conforto do café Hemingway, entre chá e livros.
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Sydney Opera |
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Sydney Harbour, ferry para Manly Beach |
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Circular Quay à noite |
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