Arquitectura e "deep dish pizza"

Mr. Beef é uma instituição de Chicago,  por onde os famosos passam para devorar a famosa Italian beef sandwich - Jay Leno é cliente incondicional.  A placa, bem visível em Orleans St., no bairro de Gold Coast, é um ícone bem conhecido aqui, mas o local pode deixar o visitante mais impreparado com algumas dúvidas. Afinal, é apenas um balcão corrido, de fórmicas a descascar, oposto a uma parede onde desfilam as fotografias autografadas das estrelas, uma porta para um anexo indicado "elegant dining room", no caso de haver dúvidas.  A cozinha é ali mesmo, o beef fumega, e as placas avisam logo o cliente atrevido: "água - 2 dólares,  água grátis: Lago Michigan,  ande para Leste". Não sei bem os trâmites, mas arrisco a tal Sandwich - "How you wann'it?" - lá pergunto as opções,  e ficamos pelos sweet peppers, e "wet" (devidamente mergulhada numa panela de molho). E wet é ela, um rolo de pão generosamente recheado de lascas de carne tenra e a escorrer molho, como deve ser!

De tarde,  arquitectura e as imagens icónicas da cidade do aço, começando pela misteriosa escultura de Picasso em frente à Câmara (é um babuino?  ...é uma mulher?) e a de Miró, curvilínea entre 2 prédios. Os arranha-céus,  entre o estilo grandioso, gótico,  dos inventores da cidade no final dos anos 1800,  o poder recto e vertical do aço e do minimalismo de Mies van der Rohe (outro filho adoptivo, desconhecia eu), e as modernas invenções de vidro, todos parecem espremer o escuro rio Chicago.

Alguns merecem atenção especial: a torre do Chicago Tribune, agora semi-falido, que podia ter sido retirada de Gotham City e tem incrustados na sua base pedras dos mais variados monumentos do mundo - a Abadia de Westminster,  o Kremlin, o castelo de Hamlet,  a Cidade Proibida,  a Casa Branca - uma excentricidade do seu fundador. Sigo até ao Millenium Park, onde os turistas deliram à volta da gigantesca forma de metal polido que parece levitar, reflectindo os prédios e as árvores outonais entre o amarelo e o cor-de-fogo. The Bean, ou oficialmente Cloud Gate, é mais divertido que solene e amacia as formas verticais, sérias, dos arranha-céus fazedores de dinheiro de Michigan Avenue. E, à americana, há sempre alguém que se oferece para nos fotografar.





De volta às avenidas do Loop a caminho do maior prédio do mundo, onde as pessoas circulam em passeios limpos e floridos, os ciclistas ultrapassam os carros e só o abanar estridente do comboio El, acima das nossas cabeças, traz um pouco de caos a esta hora de ponta civilizada. Bem diferente da confusão de táxis amarelos de Nova Iorque.

Finalmente, a Willis Tower (quando era miúdo chamavam-lhe Sears Tower e era realmente a mais alta do mundo), que tem oscilado entre a primeira e a segunda da América, conforme decorria a construção do novo World Trade Center. E é um monolito cinzento, tipo blocos de lego até às nuvens, chato e desolado.  O vento aperta, a vontade de subir é pouca , opto por um chá e um muffin.



Vários estabelecimentos clamam ter a melhor pizza "deep dish", ao estilo de Chicago. Segundo a Oprah, é no Pizzano, que fica perto do meu hotel, uma sala pequena e confortável, de paredes cobertas de fotos de estrelas do futebol americano e um chefe de mesa de malares proeminentes e cara de mafioso italiano, como se quer num local destes. A pizza é funda como uma tarte, os cogumelos e salsichas afundados no queijo derretido, o Chianti escorrega bem pela garganta, e tudo estaria bem em Chicago,  se não fosse a americana tagarela da mesa anexa, voz estridente, sem parar de falar em comida ("Aw just looove cheese") e a entornar o molho pela mesa.



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