Barafu Hut, quase, quase...
Dia 6.
Sexta, 14 Fev 2014
O caminho para Barafu Hut (gelo, em Swahili), não é longo. A nossa aclimatação à alta montanha está terminada, subimos hoje para o campo-base antes do assalto ao cume. A manhã está fria e cinzenta, caminhamos numa longa encosta sobre o campo de Karanga, por entre boulders enormes, alguns coroados por pilhas de calhaus, como mamilos.
A subida é laboriosa, a paisagem seca e estéril. Caminhamos silenciosos, há no ar a excitação do que virá amanhã, o aproximar do dia, com a confiança crescente de que, sim, afinal vai ser mesmo possível. Estamos de boa saúde, não há sinais de mal de altitude, Kibo espera-nos.
É preciso atravessar um vale achatado, desértico, descobrindo-se no topo de uma escarpa, 200 metros mais acima, o campo de Barafu, empoleirado como uma cabra montês. O declive supera-se sem dificuldades de maior, tendo em conta a altitude a que nos encontramos.
Barafu Hut parece um campo de refugiados, desiquilibradamente instalado numa escarpa inclinada, inabitável, miserável. Na verdade, é como uma plataforma giratória, sempre em movimento: quando chegamos, pelas 11 horas, as nossas tendas estão a ser montadas, mas há ainda muitas tendas de montanhistas que descem agora do cume e descansam um pouco, antes de prosseguirem para Mweka. O reboliço é grande, entre os que chegam e os que partem. Há quem venha lívido, em braços, deixando-nos levemente apreensivos, outros de olhar brilhante, apesar do cansaço. Falo com um espanhol de Madrid, "que frio, arriba", e como foi, "eso, tienes que verlo tu!".
À tarde, almoço, preparativos com o que levar ao cume, quantas camadas de roupa, que luvas, onde estão as pilhas extra, irá o Camelback congelar? É difícil conciliar algum descanso antes da noite, que será muito curta.
Godlisten chama-nos para o jantar às 5 e meia, ainda é dia. Mais tarde, Constantine e Freddie visitam-nos na tenda, para o briefing final. O nosso guia usa um tom mais formal, mas tranquilo como sempre, para nos dizer que sim, nos considera em boas condições de chegar ao cume e que tudo irá correr bem.
Cá fora, as nuvens desanuviam e à luz da lua cheia que nasce surge Mawenzi, o terceiro irmão, um pico de terríveis dentes afiados escorrendo neve, o que resta de um imponente cone vulcânico massacrado pela erosão. A luz é mágica e, no crespúsculo, até Barafu parece agora um lugar mais humano, menos miserável.
Altitude: 4043m - 4640m
Tempo: 8h10 - 11h (2h50)
Sexta, 14 Fev 2014
O caminho para Barafu Hut (gelo, em Swahili), não é longo. A nossa aclimatação à alta montanha está terminada, subimos hoje para o campo-base antes do assalto ao cume. A manhã está fria e cinzenta, caminhamos numa longa encosta sobre o campo de Karanga, por entre boulders enormes, alguns coroados por pilhas de calhaus, como mamilos.
A subida é laboriosa, a paisagem seca e estéril. Caminhamos silenciosos, há no ar a excitação do que virá amanhã, o aproximar do dia, com a confiança crescente de que, sim, afinal vai ser mesmo possível. Estamos de boa saúde, não há sinais de mal de altitude, Kibo espera-nos.
É preciso atravessar um vale achatado, desértico, descobrindo-se no topo de uma escarpa, 200 metros mais acima, o campo de Barafu, empoleirado como uma cabra montês. O declive supera-se sem dificuldades de maior, tendo em conta a altitude a que nos encontramos.
Barafu Hut parece um campo de refugiados, desiquilibradamente instalado numa escarpa inclinada, inabitável, miserável. Na verdade, é como uma plataforma giratória, sempre em movimento: quando chegamos, pelas 11 horas, as nossas tendas estão a ser montadas, mas há ainda muitas tendas de montanhistas que descem agora do cume e descansam um pouco, antes de prosseguirem para Mweka. O reboliço é grande, entre os que chegam e os que partem. Há quem venha lívido, em braços, deixando-nos levemente apreensivos, outros de olhar brilhante, apesar do cansaço. Falo com um espanhol de Madrid, "que frio, arriba", e como foi, "eso, tienes que verlo tu!".
À tarde, almoço, preparativos com o que levar ao cume, quantas camadas de roupa, que luvas, onde estão as pilhas extra, irá o Camelback congelar? É difícil conciliar algum descanso antes da noite, que será muito curta.
Godlisten chama-nos para o jantar às 5 e meia, ainda é dia. Mais tarde, Constantine e Freddie visitam-nos na tenda, para o briefing final. O nosso guia usa um tom mais formal, mas tranquilo como sempre, para nos dizer que sim, nos considera em boas condições de chegar ao cume e que tudo irá correr bem.
Cá fora, as nuvens desanuviam e à luz da lua cheia que nasce surge Mawenzi, o terceiro irmão, um pico de terríveis dentes afiados escorrendo neve, o que resta de um imponente cone vulcânico massacrado pela erosão. A luz é mágica e, no crespúsculo, até Barafu parece agora um lugar mais humano, menos miserável.
Altitude: 4043m - 4640m
Tempo: 8h10 - 11h (2h50)
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