Mweka Route
Dia 8.
Domingo, 16 Fev 2014
A mó. Quando às 6 da manhã o ruído do acampamento já não me deixa dormir mais, todo o meu corpo geme do massacre da véspera. A rota de Barafu para Mweka é como uma gigantesca mó: pegue-se no montanhista cansado da escalada a uma altitude extrema, com 2 horas de sono, e moam-se todos os ossos, músculos e tendões nos milhares de metros de rocha e lama que se seguem. No dia seguinte obtem-se farinha, que é como me sinto agora.
Enquanto arrumamos o equipamento, chove torrencialmente em Mweka. Lavo a cara à chuva, com água quente misturada com chuva. Godliving compõe-nos o espírito com o abundante pequeno-almoço do costume, e quando começa a marcha parou de chover. Patinamos lentamente no caminho enlameado, de pedras escorregadias, enquanto somos ultrapassados por carregadores a correr, equilibrando as cargas montanha abaixo.
Aos 3000m, como na subida, surgem as árvores, com uma precisão exacta. De súbito, estamos na floresta húmida, coberta de vapores e cruzada por oblíquos raios de sol. É o regresso ao paraíso primordial, em total contraste com as imensidões desérticas da alta montanha. Caminhamos entre gigantes majestosos, como a cânfora, cujas cascas são retiradas pelas suas propriedades antibióticas, e inúmeras flores, minúsculas e delicadas na imensidão do verde. Freddie mostra-nos a Impatiens kilimanjari, famosíssimo e exótico endemismo; mais abaixo abundam as Gladiolas watsonioides, simples e elegantes.
Com o avançar da manhã, a floresta enche-se de névoas, as árvores são como fantasmas, à medida que vencemos o desnível para Mweka Gate. O Kilimanjaro despede-se de novo misterioso, enrola-se nos seus mantos e desaparece, como num sonho.
Regresso à civilização no portão de Mweka, uma clareira atulhada de velhos autocarros, onde se faz a última assinatura no livre de registos do Parque e os guias se atarefam a obter os certificados para quem, de facto, esteve lá em cima. Tudo parece diferente, como que visto à distância, como se a montanha se tivesse agarrado a nós de forma indelével.
No Hotel Springlands reunimos toda a equipa no jardim, à sombra de um caramanchão, com uma cerveja fresca (Kilimanjaro Lager, claro). É a hora das "tips", mas também de agradecer pessoalmente a cada um dos 15 homens que connosco subiram a montanha, carregaram as nossas coisas, nos alimentaram, nos abrigaram, velaram pela nossa segurança e nos guiaram nos mistérios de Kibo. Constantine fica solene outra vez quando expressa o seu contentamento por nós os três termos atingido o cume, mas triste porque, quando ao longo de 8 dias nos vamos conhecendo e tornando mais próximos, no final há que seguir caminhos diferentes.
No diploma, com o seu timbre estatal e três assinaturas, estão inscritos os 5895 metros. Mas há muitos outros metros, interiores, que percorremos e levamos connosco.
Altitude: 3090m - 1647m
Tempo: 8h - 11h30 (3h30)
Domingo, 16 Fev 2014
A mó. Quando às 6 da manhã o ruído do acampamento já não me deixa dormir mais, todo o meu corpo geme do massacre da véspera. A rota de Barafu para Mweka é como uma gigantesca mó: pegue-se no montanhista cansado da escalada a uma altitude extrema, com 2 horas de sono, e moam-se todos os ossos, músculos e tendões nos milhares de metros de rocha e lama que se seguem. No dia seguinte obtem-se farinha, que é como me sinto agora.
Enquanto arrumamos o equipamento, chove torrencialmente em Mweka. Lavo a cara à chuva, com água quente misturada com chuva. Godliving compõe-nos o espírito com o abundante pequeno-almoço do costume, e quando começa a marcha parou de chover. Patinamos lentamente no caminho enlameado, de pedras escorregadias, enquanto somos ultrapassados por carregadores a correr, equilibrando as cargas montanha abaixo.
Aos 3000m, como na subida, surgem as árvores, com uma precisão exacta. De súbito, estamos na floresta húmida, coberta de vapores e cruzada por oblíquos raios de sol. É o regresso ao paraíso primordial, em total contraste com as imensidões desérticas da alta montanha. Caminhamos entre gigantes majestosos, como a cânfora, cujas cascas são retiradas pelas suas propriedades antibióticas, e inúmeras flores, minúsculas e delicadas na imensidão do verde. Freddie mostra-nos a Impatiens kilimanjari, famosíssimo e exótico endemismo; mais abaixo abundam as Gladiolas watsonioides, simples e elegantes.
Com o avançar da manhã, a floresta enche-se de névoas, as árvores são como fantasmas, à medida que vencemos o desnível para Mweka Gate. O Kilimanjaro despede-se de novo misterioso, enrola-se nos seus mantos e desaparece, como num sonho.
Regresso à civilização no portão de Mweka, uma clareira atulhada de velhos autocarros, onde se faz a última assinatura no livre de registos do Parque e os guias se atarefam a obter os certificados para quem, de facto, esteve lá em cima. Tudo parece diferente, como que visto à distância, como se a montanha se tivesse agarrado a nós de forma indelével.
No Hotel Springlands reunimos toda a equipa no jardim, à sombra de um caramanchão, com uma cerveja fresca (Kilimanjaro Lager, claro). É a hora das "tips", mas também de agradecer pessoalmente a cada um dos 15 homens que connosco subiram a montanha, carregaram as nossas coisas, nos alimentaram, nos abrigaram, velaram pela nossa segurança e nos guiaram nos mistérios de Kibo. Constantine fica solene outra vez quando expressa o seu contentamento por nós os três termos atingido o cume, mas triste porque, quando ao longo de 8 dias nos vamos conhecendo e tornando mais próximos, no final há que seguir caminhos diferentes.
No diploma, com o seu timbre estatal e três assinaturas, estão inscritos os 5895 metros. Mas há muitos outros metros, interiores, que percorremos e levamos connosco.
Altitude: 3090m - 1647m
Tempo: 8h - 11h30 (3h30)
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