Da Concessão Francesa ao Bund

Dia 15 - 17 Agosto

Podia ter mudado de país ou de continente, de tal forma mudou a paisagem. A noite foi retemperadora, num 16º andar de onde se vêem os arranha-céus de People's Square e bairros antigos de 2 andares a lembrar vilas operárias. Está quente, mas não já os terríveis 40 graus noticiados no jornal, o céu azul, que aqui é raro.

Ao pequeno-almoço reencontramos companheiros de viagem da Grande Muralha: Stuart, escocês de Durham, e Ryan, chinês de Hong Kong, ambos professores de inglês nessa cidade.

Rumamos ao bairro da Concessão Francesa, a oeste, onde persiste um ar colonial, europeu, nas suas ruas de casas baixas sombreadas por plátanos, cafés, boutiques, galerias. Nos tempos da louca Xangai dos séculos XIX e XX, aqui havia verdadeiros enclaves ocidentais, as concessões, onde crescia a finança, negociava-se em ópio, sedas, chá, ao lado da decadência e da miséria dos bairros chineses, dos prostíbulos e das casas de ópio. A concessão francesa mantém um chique de outras épocas, numa mistura de modernos prédios, lojas de marca ocidentais, comércio chinês e muitos ocidentais pelas ruas.

Tianzifang é um exemplo bem sucedido de recuperação e integração - um pequeno bairro de casas tradicionais, vielas estreitas cheias de pequenas lojas, em que o artesanato, o chá, as caxemiras, coabitam com pequenas galerias de novos talentos chineses. Almoçamos no café francês Origin, antes de explorar uma exposição de fotógrafos chineses contemporâneos e a Galeria de Ren Weiyin, um dos mais importantes pintores chineses do século XX,  que misturou a técnica impressionista ocidental com a pincelada fluida própria da caligrafia chinesa. O maoismo obrigou-o a reparar sapatos durante 17 anos, metido num cubículo com toda a família e pintando às escondidas, desconhecido do mundo até à sua morte, em 1994!



De metro chega-se depressa a East Nanjing Rd., a grande rua do comércio, onde nasceram os primeiros grandes armazéns nos anos 20, hoje uma feérica artéria pedonal a lembrar Times Square. Daqui desce-se ao Bund, a fantástica montra de Xangai, onde se alinham na marginal do rio os grandes edifícios da glória e riqueza da cidade das décadas de 20 e 30. Hoje todos restaurados, estas jóias Art Deco são presididas pela torre do relógio da Alfândega, cujo grande sino Big Ching (cópia do Big Ben) ainda hoje se sobrepõe ao ruído da cidade. O Bund ao anoitecer é uma festa, acendem-se as luzes todas e as multidões invadem a marginal, a ver o outro espectáculo: a Xangai do futuro, do outro lado do rio, em Pudong. Há pouco mais de 20 anos não havia lá nada; então, o governo chinês anunciou a criação de uma zona económica especial, e surgiram os arranha-céus, de arquitectura futurista, gigantescos painéis publicitários, o maior centro financeiro da Ásia. A Shanghai Tower, ainda em construção,  ultrapassou ja os vizinhos e prepara-se para ser o segundo maior edifício do mundo.


Jantar no Shanghai Grandmother, a um quarteirão do Bund, fiável e despachado restaurante com todos os clássicos chineses - hoje é um guisado fumegante de vitela e aipo, num pote de bambu. O dia termina a olhar as luzes de Pudong, coadas pela humidade, no terraço do Captain's Bar, um 5º andar a dois passos do Bund, meio embasbacados pelo frenesim feérico desta Nova Iorque oriental.



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