Adeus Pequim

Dia 5 - 7 Agosto

Hoje é dia de iniciação ao complexo sistema ferroviário chinês e suas peculiaridades. Abandonada a ideia de tomar um autocarro para Datong, reservámos bilhetes "hard-sitter", uma das categorias possíveis (e a mais barata,  mas única disponível). Existem depois os lugares "hard-sleeper", espécie de couchettes triplas em compartimentos abertos,  e os "soft-sleeper", mais luxuosos, mas dentro da estética ferroviária-anos-oitenta. Lá iremos.

Antes houve tempo para visitar o Templo do Céu,  grande complexo imperial do periodo Ming situado a sul da Cidade Proibida e hoje integrado no belíssimo parque Tian Tan. Aqui o imperador, enquanto Filho do Céu,  vinha prestar sacrifícios pedindo boas colheitas para o seu povo. O grandioso Salão de Oração pelas Boas Colheitas,  com os seus telhados triplos de azul celeste e profusamente decorado com o dragão (o Imperador) e a fénix (a Imperatriz), é o centro deste santuário, que não perdeu a atmosfera transcendente apesar das multidões de turistas que se acotovelam por uma fotografia. Por entre os seculares cedros,  alguns com 700 anos, retorcidos de velhos e escorados, muitos chineses dedicam-se ao Tai chi, a danças em grupo, a praticar ópera chinesa ou a demonstrar o talento de cantor romântico, a quem os queira ouvir. Num recanto sombreado e fresco, vários músicos ensaiam num peculiar instrumento de cordas chinês (chama-se Erhu),  alguns acompanhados por voz, e cada um interpretando a sua melodia numa cacofonia hipnótica.





O lugar é realmente bonito e o dia, apesar de quente, está consideravelmente mais leve. Pequim parece agora uma cidade acolhedora, com oasis tranquilos, mas mantém o mistério sobre o que se esconde por trás dos muros, nos pátios dos Hutongs e nos vestígios da cidade imperial. Por fora é enorme, feia, suja, cinzenta, sob um céu baço e poluído;  por dentro, colorida, vibrante, tradicional, familiar, ancestral.

A Estação Central de Pequim lembra uma imensa colmeia, em que milhares de viajantes se afadigam como obreiras, num caos organizado. É seguramente uma das mais movimentadas do mundo. O controlo de bilhetes começa na praça, depois controlo de bagagens e RX, depois dirigimo-nos à gigantesca sala de espera do nosso comboio, totalmente apinhada (há pelo menos 6, estilo salão de baile soviético). Apesar da tremenda confusão e ruído, a orientação é fácil e encontramos os nossos lugares "hard-sitter" muito antes da hora da partida. O conforto aqui não se pode medir pelos padrões europeus, mas apesar de tudo as 6 horas até Datong correm depressa. Há sempre crianças que se riem para nós,  há olhares interessados e alguém que tenta ajudar mesmo sem uma palavra de inglês.



Da chegada a Datong não restam boas recordações. Basta dizer que a cidade é suja, em obras, o hotel que procuramos foi demolido, o jantar de qualidade muito duvidosa, a noite desconfiada num quarto pouco limpo. Valeu a companhia de 2 estudantes de Lyon, a conhecer a China antes de estagiarem em Taiwan e Xangai, para dois dedos de conversa em francês e cerveja chinesa fresquinha.

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