Palácio de Verão

Dia 2 - 4 Agosto

A noite foi de insónia e jetlag, o que acabou por deitar por terra os planos de estar bem cedo à porta do Palácio de Verão. O dia hoje está muito mais abafado, a roupa começa a pegar-se ao corpo ainda não chegámos ao fundo da rua, mas o metro é fresco, até os corredores de acesso estão climatizados.

Gente, muita gente. A China tem 1,3 biliões de almas, Pequim uns 19 milhões, e ao fim de 2 dias tenho a sensação de já me ter cruzado com uma boa parte delas. Pequim é inacreditavelmente grande, e tem multidões de turistas, quase todos chineses. E os turistas chineses fazem-se ouvir,  acotovelam-se, passam à frente nas filas, gritam pelos filhos, sentem-se em casa, são capazes de fazer a sesta nos corredores da Cidade Proibida e acham fundamental espalmar as mãos em todas as vitrines ou pedaços de arquitectura (hoje ocorreu-me se seria por isso que a cidade era proibida...). Facto curioso, deliram em posar para a fotografia ao lado de ocidentais, com um ar triunfante e os dedos em V. Sorrimos e divertimo-nos com isto, mas à décima vez começa a ser cansativo...

O retiro de Verão dos Imperadores, Imperatrizes, concubinas e demais corte fica num local aprazível afastado do centro, em redor do lago Kunming. É um recinto enorme, de paisagem delicada,  salpicado de templos budistas, caminhos bordejados por salgueiros e pessegueiros, uma pérola de arquitectura chinesa perfeitamente integrada na paisagem.  Nomes como o Pavilhão da Fragrância Budista, Ponte do Cinturão de Jade ou o Salão da Benevolência e Longevidade expressam bem a natureza mágica do local e a poética nomenclatura chinesa, mais apropriada para contos de fadas. O "qin" (animal mitológico que surge apenas em épocas de harmonia), a fénix e o dragão parecem habitar ainda por aqui.

Este bucolismo não terá comovido muito os soldados anglo-franceses, que no século XIX queimaram e arrasaram grande parte dos edifícios, como é repetido à exaustão nos painéis informativos. Mais tarde, a temível Imperatriz-viúva Cixi gastou aqui grande parte dos fundos destinados à Marinha do país, como numa excêntrica barca de mármore eternamente ancorada na margem do lago.





O dia vai caindo cada vez mais sufocante, irrespirável de humidade, as nuvens amontoam-se a noroeste, tapando já o alto pagode que se via na encosta da montanha, e a borrasca nao tardará.
Caiu-nos em cima mais tarde, quando procurávamos o restaurante onde se come um famoso pato lacado e onde o inglês não habitava. A persistência valeu: nunca comi um pato tão bom na minha vida,  num ambiente que mais parecia o pátio de uma qualquer família chinesa - os cozinheiros, depois de nos trincharem a ave com grande arte, foram comer animadamente o seu jantar na mesa do lado.

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