Os 51 mil Budas e o comboio nocturno

Dia 6 - 8 Agosto

Datong foi outrora capital de um reino poderoso e a primeira sede do budismo na China. Toda a zona antiga está a ser restaurada, incluindo as suas ainda exensas muralhas, chinese-way: deita-se abaixo o que resta e faz-se tudo novo. Dois autocarros a 1 Yuan levam-nos através de bairros decrépitos, blocos estalinistas e trânsito caótico até ao que nos trouxe aqui: as grutas de Yungang, escavadas na rocha de um desfiladeiro há 2500 anos e ainda guardando muito do seu esplendor budista original,  nos milhares de imagens de Buda nas suas várias representações e de todos os tamanhos.  O local está um pouco "turistizado" nas grandes infraestruturas de acesso, incluindo um grande templo budista no meio de um lago e um moderno museu. Mas há grutas impressionantes, como a que guarda a maior estátua, alta de 17 metros e ainda revestida a esmalte colorido e dourado, ou outras que reproduzem pagodes e stupas esculpidas na rocha, repletas de detalhes e ainda com pigmentos originais.

De Datong há que seguir para sul, atravessando toda a província de Shanxi em direcção à antiga capital imperial e em tempos a maior cidade do mundo: Xi'an. Esperam-nos 16 horas de comboio,  versão "hard-sleeper", com uma pontinha de apreensão. O comboio é mais velho que o anterior, parece estar ainda nos anos 70, com a pintura a descascar e os vidros manchados.  Ainda assim, o terceiro beliche que me calha não é demasiado desconfortável, embora só permita mesmo a posição de deitado. 

A carruagem vai cheia, apenas mais duas ocidentais que nos ignoram, e os chineses começam imediatamente a dedicar-se a uma das suas actividades favoritas: comer continuamente. Olham-nos com simpatia e deixam-nos sossegados. Stanley é um rapaz chinês que decide praticar o seu inglês connosco, muito prestável em tirar dúvidas ou dar explicações. Tem já um nome inglês porque pretende ir estudar para a Austrália, onde vive a família, mas por agora trabalha e ocupa as férias a viajar um pouco até ao monte sagrado Hua Shan. Podia ser um qualquer rapaz ocidental, mas revela interesse em Portugal (Putaoyá) e fala-nos da história da China, das suas minorias e de como a vida melhorou (os pais, na idade dele, nunca tinham podido comer até se sentirem cheios...).

A conversa ajuda a passar as longas horas, a tripulação passa continuamente a vender fast-food chinês, fruta ou livros, sempre atarefados. A noite é surpreendentemente tranquila e sem sonhos até às 7 da manhã, quando toda a carruagem se reanima, passado já o Rio Amarelo na planície de Shaanxi.

Comentários

  1. Gosto (muito) das fotos, mas sabem-me a pouco. Não tens uma galeria mais alargada? Ou está no FB (do qual tenho andado ausente)?

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